Mas a morte não tem livros, comida, cachorros ou feriados. A vida não tem descanso, mas a morte não tem um despertador desligado. A morte não tem música alta, festa surpresa, abraços demorados, dinheiro encontrado no fundo do bolso, nota alta na prova, beijo na boca, poesia, banho de chuva, azulejo frio, ursos de pelúcia discretos, colo de mãe. A morte não tem férias, e a vida também não. Quase é injusto. A vida não tem paz e a morte não tem tristeza, ressentimento, descaso, síndrome da invisibilidade, raiva, fome, preocupação, vestibular, chefes, tédio, contas, solidão, impotência, baixa auto-estima, invalidez, culpa, desespero, agonia, abandono, saudade e silêncio. A morte não tem arrependimento, mesmo se for forçada a acontecer. E aí, quando cansarmos do contrato e nosso saldo de coisas boas não der conta de segurar uma depressão sozinho, a gente não vai mais estar vivo pra sentir alívio. Viver é desvantagem demais. E morrer só comprova isto.
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