Também sou pai, e, portanto, compreendo. Vocês querem o melhor para o filho, para a filha. A melhor escola, os melhores professores, os melhores colegas. Vocês querem que seus filhos e filhas fiquem bem preparados para a vida.
A vida é dura, e só sobrevivem os mais aptos.
É preciso ter uma boa educação.
Compreendo, portanto, que vocês tenham torcido o nariz ao saber que a escola ia adotar uma política estranha: colocar crianças deficientes nas mesmas classes das crianças normais. O seu nariz torcido disse o seguinte: “Não gostamos, não deveria ser assim!” O problema começa com o fato das crianças deficientes serem fisicamente diferentes das outras, chegando mesmo, por vezes, a ter uma aparência esquisita. E isso cria de saída um mal estar... Digamos... Estético. Vê-las não é uma experiência agradável. É preciso se acostumar... Para complicar,
há o fato de as crianças deficientes serem mais lerdas: elas aprendem devagar. As professoras vão ser forçadas a diminuir o ritmo do programa para que elas não fiquem para trás. E isso, evidentemente, trará prejuízos para nossos filhos e filhas, normais, bonitos e inteligentes. É preciso ser realista: a escola é uma maratona para se passar no vestibular. É por isso que elas existem. Quem fica para trás não entra... O certo mesmo seria ter escolas especializadas, separadas, ondes os deficientes aprenderiam o que podem aprender, sem atrapalhar os outros.
Se for assim que vocês pensam, eu lhes digo: Tratem de mudar sua maneira de pensar rapidamente porque, caso contrário, vocês irão colher frutos muito amargos no futuro. Porque, quer vocês queiram, quer não, o tempo se encarregará de fazê-los deficientes.
(...)
Chegará o dia em que seus olhos não verão como viam na mocidade.
Os seus braços ficarão fracos e tremerão no seu corpo curvo. Os seus dentes não mais moerão por serem poucos. E a cama pela manhã, tão gostosa no tempo da mocidade, ficará Incômoda. Vocês se levantarão tão cedo como os pássaros e terão medo de andar por não verem direito o caminho. É preciso serem prudentes porque os velhos caem com facilidade por causa de suas pernas bambas e podem quebrar a cabeça do fêmur. Pode até ser que vocês venham a precisar de uma bengala. (...)
Vocês ficarão surdos, seu mundo ficará cada vez mais silencioso. E conversar ficará penoso. Vocês verão que todos estão rindo. Alguém disse uma coisa engraçada. Mas vocês não ouviram. Vocês rirão, não por terem achado graça, mas para que os outros não percebam que vocês estão surdos. Vocês imaginaram uma velhice gostosa e até compraram um sítio com piscina e árvores. Esqueçam. Os interesses dos netos são outros, eles não gostam de conviver com deficientes.
Eles não aprenderam a conviver com deficientes. Poderiam ter aprendido na escola, mas não aprenderam porque houve pais que protestaram contra a presença de deficientes.
A primeira tarefa da educação é ensinar as crianças a serem elas mesmas. Isso é extremamente difícil. Álvaro de Campos diz: “Sou o intervalo entre o meu desejo e aquilo que os desejos dos outros fizeram de mim.” Frequentemente as escolas esmagam os desejos das crianças com os desejos dos outros que lhes são impostos. O programa a escola, aquela série de saberes que as professoras tentam ensinar, representa os desejos de outro, que não é criança. Talvez um burocrata que pouco entende dos desejos das crianças. É preciso que as escolas
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