Quando olho para trás, com a nitidez com que a distância nos deixa ver as coisas, aquilo que vejo são anjos. Uns têm a forma de sonhos concretizados e olham para mim com gratidão e outros são ainda só o esboço do futuro. Já se percebem os contornos, mas ainda não têm as asas acabadas. Leva tempo acabar umas asas. É preciso ver se conseguem aguentar o voo, se não fecham antes de tempo. Há quem tenha pressa e não queira esperar. Eu não. Não quero asas feitas à pressa ou que se desfaçam ao mínimo sopro de adversidade. Quero asas que aguentem ventos fortes. Não daquelas asas falsas que só sabem voar quando o vento está de feição. Sei que as asas falsas são feitas de penas alheias. Não servem. Nada que não sejamos nós a sofrer não nos serve. Nada que não sejamos nós a conseguir não nos dá asas verdadeiras. Daquelas que, quando se abrem, fazem cócegas no céu.
Nenhum comentário:
Postar um comentário