A ALEGRIA INVADIU MINHA ALMA

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Big Meu Lindo.

segunda-feira, 4 de junho de 2018

O SAPINHO PINGO DE OURO

O Sapinho Pingo de ouro é muito raro, encontrado apenas em grandes altitudes nas montanhas da Mata Atlântica.

Quando o sapinho-pingo-de-ouro, espichado sobre uma folha seca no chão de algum pedaço de Mata Atlântica, canta discretamente seu trinado semelhante ao de um grilo, imagina-se uma fêmea por perto avaliando o possível parceiro. Essa é, pelo menos, a prática de outros sapos. Mas não necessariamente nesse gênero Brachycephalus: tanto machos quanto fêmeas de duas espécies são surdos ao próprio canto, segundo descobriu uma equipe internacional liderada pelo zoólogo Luís Felipe Toledo, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
 “É o primeiro caso registrado de uma espécie animal que não escuta a própria voz”, afirma.
Em um experimento comportamental com Brachycephalus pitanga, o grupo verificou que nem os machos nem as fêmeas reagem ao canto gravado e transmitido por alto-falantes. “Se estão cantando, continuam cantando, se estão caminhando, continuam caminhando, se estão parados, continuam parados.”

O estudo, publicado na revista Scientific Reports, analisou em detalhes a audição de duas espécies de Brachycephalus – B. ephippium e B. pitanga, ambos medindo cerca de 2 centímetros – em comparação a outro sapinho do mesmo tamanho, Ischnocnema parva, para entender a observação inusitada. A ecóloga francesa Sandra Goutte, durante estágio de pós-doutorado com Toledo, iniciou o trabalho e buscou a colaboração de especialistas na Inglaterra, na Dinamarca e no Instituto Butantan, em São Paulo – os biólogos Carlos Jared e Marta Antoniazzi. “Ficamos curiosos porque não é possível enxergar o tímpano dos Brachycephalus”, lembra Toledo. De fato, as análises anatômicas mostraram que essas duas espécies não têm tímpano – a membrana que compõe a chamada orelha externa – nem os ossículos da orelha média. O que eles mantêm são os dois órgãos auditivos da orelha interna, um capaz de detectar as frequências sonoras graves e outro as agudas.

Por meio de eletrodos no cérebro, foi possível demonstrar que as duas espécies de Brachycephalus não têm resposta neurológica na faixa auditiva do próprio canto. Eles respondem apenas os sons mais graves, transmitidos ao órgão auditivo por meio de vibração das pernas. Já a percepção dos sapinhos I. parva, que mantêm o aparelho auditivo completo, coincide com a frequência em que cantam. A reconstrução tridimensional do sistema auditivo explica a diferença entre as espécies. Em B. ephippium a papila basilar, órgão auditivo interno responsável por detectar as frequências agudas, não está em contato nem com a estrutura que conduz o som, nem com a inervação que leva os estímulos ao cérebro – situação completamente diferente de I. parva, em que todas essas estruturas estão bem conectadas. B. pitanga mostra um resquício da configuração considerada normal, com uma pequena inervação do órgão. Mas não há estímulo a conduzir, porque o contato com a estrutura condutora de som não existe.

A pergunta que fica é: por que esses sapinhos cantam? Toledo ainda não tem a resposta definitiva. Ele destaca que cantar é considerado uma atividade de risco por atrair predadores e parasitas. O dogma é que só vale a pena por uma causa maior, que é atrair pares reprodutivos ou expulsar machos rivais. Objetivos que, neste caso, obviamente fracassam. “Aparentemente pegamos no ato um processo evolutivo em andamento”, propõe o zoólogo. Talvez a comunicação nessas espécies seja visual, e o movimento do saco vocal quando eles cantam seja atraente para as fêmeas ou comunique algo aos outros machos. A emissão de som seria um efeito colateral. Quanto ao risco de predação e parasitismo, é possível que não seja um problema tão grande para essas espécies de cor marcante que indica a presença de forte toxina na pele. Por isso a seleção natural ainda não teria atuado com força para silenciar esses sapos minúsculos.


The golden Pingo Sapin is very rare, found only at high altitudes in the mountains of the Atlantic Forest.

When the golden snapper, sprawled on a dry leaf on the floor of some piece of Atlantic Forest, quietly sings its trill similar to that of a cricket, one imagines a female nearby evaluating the possible mate. That is, at least, the practice of other frogs. But not necessarily in this genus Brachycephalus: both males and females of two species are deaf to their own song, according to an international team led by zoologist Luís Felipe Toledo of the State University of Campinas (Unicamp).
 "It is the first recorded case of an animal species that does not listen to its own voice," he says.
In a behavioral experiment with Brachycephalus pitanga, the group found that neither males nor females react to the recorded corner and transmitted through loudspeakers. "If they are singing, they continue singing, if they are walking, they continue walking, if they are standing, they are still standing."

The study, published in the journal Scientific Reports, examined in detail the hearing of two species of Brachycephalus - B. ephippium and B. pitanga, both measuring about 2 centimeters - compared to another of the same size, Ischnocnema parva, to understand the unusual observation. The French ecologist Sandra Goutte, during a postdoctoral training with Toledo, started the work and sought the collaboration of specialists in England, Denmark and the Butantan Institute in São Paulo - the biologists Carlos Jared and Marta Antoniazzi. "We are curious because it is not possible to see the tympanum of the Brachycephalus," recalls Toledo. In fact, anatomical analyzes have shown that these two species have no tympanum - the membrane that makes up the so-called outer ear - nor the middle ear ossicles. What they maintain are the two auditory organs of the inner ear, one capable of detecting the serious and the other the acute sound frequencies.

By means of electrodes in the brain, it was possible to demonstrate that the two Brachycephalus species do not have neurological response in the auditory range of the singing itself. They respond only to the most serious sounds transmitted to the auditory organ by vibrating the legs. The perception of the I. parva thrush, which maintains the complete hearing aid, coincides with the frequency in which they sing. The three-dimensional reconstruction of the auditory system explains the difference between the species. In B. ephippium, the basilar papilla, the internal auditory organ responsible for detecting the acute frequencies, is not in contact with either the structure that conducts the sound or the innervation that brings the stimuli to the brain - a situation completely different from I. parva, where all these structures are well connected. B. pitanga shows a remnant of the configuration considered normal, with a small innervation of the organ. But there is no stimulus to drive, because the contact with the conductive structure of sound does not exist.

The question remains: why do these little frogs sing? Toledo still does not have the definitive answer. He points out that singing is considered a risky activity by attracting predators and parasites. The dogma is that it is only worth it for a greater cause, that is to attract reproductive pairs or to expel rival males. Objectives that, in this case, obviously fail. "Apparently we take in the process an ongoing evolutionary process", proposes the zoologist. Perhaps the communication in these species is visual, and the movement of the vocal bag when they sing is attractive to the females or communicates something to the other males. The emission of sound would be a side effect. As for the risk of predation and parasitism, it may not be such a problem for these species of striking color that indicates the presence of strong toxin in the skin. So natural selection would still not have acted with force to silence these tiny frogs.


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