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terça-feira, 14 de outubro de 2014

"Professor" Zico dá primeiros passos para popularizar futebol na Índia

No comando do F.C. Goa, Galinho se mostra à vontade no país, mas afirma que falta malícia aos atletas locais: "Estão em um estágio muito inicial de aprendizado"


A cena já foi descrita dezenas de vezes para explicar quem é Zico. Ainda jogador, ídolo do Flamengo, ele ficava sozinho depois do treino tentando acertar uma camisa pendurada no travessão da Gávea. Era para aprimorar as cobranças de falta, mesmo sendo reconhecido como um especialista na jogada. Ali estava um traço da personalidade que Zico parece nunca ter perdido: o de buscar a perfeição nos fundamentos do futebol. Talvez por isso, o ídolo tenha construído uma carreira diferente como treinador. Sem grandes títulos, mas muito respeitado por sua capacidade de ensinar.
Foi assim no Japão, onde teve participação significativa no desenvolvimento do futebol no país e virou ídolo. Depois, numa experiência semelhante, ainda que em escala muito menor, no Uzbequistão. Agora, o desafio é na Índia. Zico é o treinador do Goa, um dos oito times que disputam a Indian Super League (ISL). No treino do último domingo, a três dias da estreia no campeonato, a preocupação dele ainda era a lapidação da matéria-prima que tem em mãos.
- A ênfase aqui é nos fundamentos. Tenho que mostrar uma filosofia de jogo, quem vai marcar onde, posicionamento, esse tipo de coisa que num time de alto nível você não precisa explicar. Mas aqui eles ainda são muito inocentes, não têm malícia, estão em um estágio muito inicial de aprendizado - analisa.
O apelido de professor, lugar-comum para se referir aos treinadores, no caso de Zico é adequado. Ele gosta mesmo é de ensinar.
- Acho que sou bom professor, porque foi assim quando eu era garoto, tive muito professor bom. E agora quero dividir isso com os outros. É gratificante ver as pessoas evoluírem, aprenderem alguma coisa com você, nem que sejam só algumas palavras em português - brinca.
Entre os mestres mais queridos estão Telê Santana, Cláudio Coutinho e Joubert, que o dirigiram como jogador. Além de muitas outras referências dentro de campo.
- Eu aprendi a cabecear com álbum de figurinhas do Pelé. Abre o olho, estica a veia do pescoço e ataca a bola. Era o movimento que ele fazia e que eu tentava imitar. Tem macete no futebol que o cara faz por instinto, mas não sabe por que está fazendo. E eu sempre gostei de descobrir a melhor forma de se executar cada fundamento.
Zico está na Índia há três semanas. E terá apenas mais dois meses de "aulas" pela frente. O contrato dura até o final da ISL, em dezembro. A rotina dele em Goa, o menor dos estados indianos com um milhão e meio de habitantes, é simples. Do hotel para o treino, do treino de volta ao hotel para assistir aos jogos dos adversários no campeonato, e depois para a internet para matar saudade da família.
- Vim pelo desafio, pela experiência. Mas já estou morrendo de saudades da Sandra, dos filhos e dos netinhos. Ainda bem que hoje está muito mais fácil de falar com eles, bem diferente dos meus tempos de Japão - brinca.


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