Exposição mostra correspondência entre Carlos Drummond de Andrade e sua mãe
Cartas do escritor para Julieta começam a ser exibidos nesta terça-feira, em BH. Os documentos serão mostrados ao público pela primeira vez
Como um garimpeiro, Marconi Drummond anda à caça de tudo que possa preservar a memória do primo ilustre, o poeta Carlos Drummond de Andrade (1902-1987). Depois de encontrar em Lavras, Sul de Minas, importante lote de cartas escritas pelo poeta, muitas delas endereçadas à mãe, Julieta, chegou a hora de o público ter contato com esse rico acervo, acrescido de novas descobertas. Será a oportunidade de conhecer as respostas dadas às cartas encaminhadas pelo poeta à mãe. Uma intimidade inédita que estará aberta à população a partir de terça-feira, na exposição QuasePoema – Cartas e outras escrituras drummondianas.
Há cerca de um mês, Marconi Drummond e Fabíola Moulin, responsáveis pela curadoria da mostra, começaram a organizá-la. Por uma curiosidade – ou instinto investigador –, eles foram para o Rio de Janeiro consultar dois acervos. A primeira parada foi na Fundação Casa Rui Barbosa, que, mesmo com inventário muito organizado, não foi produtiva. Já na segunda tentativa, no Instituto Moreira Salles, Marconi se deparou com um tesouro.
“Conseguimos casar algumas cartas do filho com algumas da mãe. Respostas a perguntas e até comentários sobre mensagens anteriores. É uma grande rede de correspondência afetiva entre mãe e filho”, diz. Será a primeira vez que 88 documentos e cartas escritas por Drummond serão apresentados ao público. Ao acervo do Memorial Carlos Drummond de Andrade se somam as 28 cartas assinadas por dona Julieta Augusta Drummond.
Será um encontro da afetiva poesia postal entre mãe e filho. Uma instalação vai projetar as cartas em mesas antigas. Os escritos em papel também estarão no local, assim como fotografias e outros documentos familiares. Na sala também haverá a exibição do documentário Consideração do poema, com Caetano Veloso, Fernanda Torres, Gregório Duvivier, Drica Moraes, Laerte, Chico Buarque e Marília Pêra, entre outros, recitando trechos da obra do poeta.
Carlos Drummond de Andrade saiu de Belo Horizonte em 1934 para trabalhar no Rio de Janeiro. Vinha com certa frequência visitar a família, mas a comunicação se dava sobretudo por via postal. Pelas cartas, o tom carinhoso era recíproco. “Minha boa mãe” era como ele iniciava a mensagem, por vezes assinada como Carlitos. Ela, por sua vez, respondia “Meu bom Carlos” e frequentemente terminava com “a bênção da tua mãe muito amiga de coração, Julieta”.
Como Marconi Drummond observa, mãe e filho quase nunca fazem referência a questões literárias. “Ele também não compartilha com ela sua vida emocional e de funcionário público”, conta. O que comentam tem mais a ver com as rotinas da vida em Itabira e no Rio de Janeiro, as mudanças trazidas pela guerra e assuntos de natureza prática.
Em uma das cartas, Julieta Drummond fala do início da atividade mineiradora em Itabira. “Ela escreve para o filho dizendo que a cidade estava vivendo um clima progressista e ela estava feliz com isso, mas atenta e receosa pela desconfiguração do cenário da infância dele”, comenta o curador. “É um Drummond visto por uma ótica absolutamente inédita. É um filho afetuoso na sua mais absoluta intimidade.”
Coleção preciosa
As cartas adquiridas pela Fundação Carlos Drummond de Andrade foram compradas em outubro do ano passado do jornalista e empresário Eduardo Cicarelli, de Lavras, que guardou os documentos durante 20 anos. Ele é colecionador de selos e foi graças ao hábito de comprar exemplares antigos que descobriu o acervo de cartas da família Drummond. O lote de documentos pertencia a Ita, a cunhada de Drummond, que, por sua vez, herdou as cartas da sogra, Julieta Augusta, mãe do poeta.
O lote tem 212 itens, entre cartas, fotografias, bilhetes, postais e telegramas. Estão datados entre 1915 e 1986. Quando chegou a Itabira, o material foi higienizado, separado em plásticos adequados e guardado em caixas. Segundo Marconi Drummond, por enquanto não há previsão de itinerância da mostra QuasePoema – Cartas e outras escrituras drummondianas. “Acho que deveria, pelo ineditismo desse encontro. Nem eles mesmos viram essas cartas juntas. É muito bonito promover essa aproximação poética entre mãe e filho”, conclui o curador.
QUASE POEMA – CARTAS E OUTRAS ESCRITURAS DRUMMONDIANAS
Do dia 18 deste mês a 18 de janeiro de 2015. Casa Fiat de Cultura, Praça da Liberdade, 10, Funcionários, (31) 3289-8900. Terça a sexta-feira, das 10h às 21h; sábados, domingos e feriados, das 10h às 18h. Entrada franca.
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Exhibition shows correspondence between Carlos Drummond de Andrade and his mother
Writer's Letters to Juliet begin to appear on Tuesday, in BH. The documents will be shown to the public for the first time
As a prospector, Marconi Drummond will hunt all you can to preserve the memory of the illustrious cousin, the poet Carlos Drummond de Andrade (1902-1987). Once you find in SE South Mine, important batch of letters written by the poet, many of them addressed to his mother, Juliet, it's time for the public to have contact with this rich collection, plus new discoveries. It will be the opportunity to know the answers to the letters sent by the poet to his mother. An unprecedented intimacy that will be open to the public from Tuesday, on display QuasePoema - Charts and other drummondianas scriptures.
About a month, Marconi Drummond and Fabiola Moulin responsible for curating the show, began to organize it. As a curiosity - or instinct investigator - they went to the Rio de Janeiro see two collections. The first stop was at Foundation House Rui Barbosa, that even with very organized inventory, was not productive. In the second attempt, the Instituto Moreira Salles, Marconi came across a treasure.
"We got married some son of letters with some of the mother. Answers to questions and even comments on previous posts. It is a large network of affective correspondence between mother and child, "he says. It will be the first time that 88 documents and letters written by Drummond will be presented to the public. The acquis Memorial Carlos Drummond de Andrade add up the 28 letters signed by Mrs. Juliet Augusta Drummond.
It will be a meeting of the affective postal poetry between mother and child. An installation will design the cards in antique tables. The written paper will also be on site as well as photos and other family documents. In the room there will also be a screening of the documentary poem Consideration, with Caetano Veloso, Fernanda Torres, Gregory Duvivier, Rikki Moraes, Laertes, Chico Buarque and Marilia Pera, among others, the poet reciting excerpts from the work.
Carlos Drummond de Andrade left Belo Horizonte in 1934 to work in Rio de Janeiro. Vineyard infrequently visit family, but communication was given mainly by post. The letters, the affectionate tone was mutual. "My good mother" was how he began the message, sometimes signed as Carlitos. She, in turn, answered "My good Carlos" and often ended with "the blessing of your mother very heart of girlfriend, Juliet".
As Marconi Drummond notes, mother and son almost never refer to literary issues. "It also does not share with her your emotional life and public official" account. What comment has more to do with the routines of life in Itabira and in Rio de Janeiro, the changes brought about by war and practical issues.
In one of the letters, Juliet Drummond talks about the beginning of the activity mineiradora in Itabira. "She writes to her son saying that the city was experiencing a progressive climate and she was happy about it, but attentive and afraid by the mangling of his childhood landscape," says the curator. "It's a Drummond seen by an entirely novel perspective. It is an affectionate son in his absolute intimacy. "
precious collection
The letters acquired by the Foundation Carlos Drummond de Andrade were bought in October last year the journalist and businessman Eduardo Cicarelli, Lavras, which retained the documents for 20 years. He's stamp collector and it was thanks to the habit of buying old copies that found the body of Drummond family letters. The batch of documents belonged to Italy, Drummond's sister, who, in turn, inherited the mother's letters, Juliet Augusta, the poet's mother.
The plot has 212 items, including letters, photographs, tickets, postcards and telegrams. They are dated between 1915 and 1986. When it was Itabira, the material was cleaned, separated into suitable plastic and stored in boxes. According Marconi Drummond, for now there are no expectations roaming show QuasePoema - Charts and other drummondianas scriptures. "I think we should at unprecedented nature of this meeting. Neither they themselves saw these letters together. It's pretty much promoting this poetic approach between mother and child, "concludes the curator.
ALMOST POEM - LETTERS AND OTHER SCRIPTURES DRUMMONDIANAS
The 18th of this month to 18 January 2015. Fiat House of Culture, Freedom Square, 10, Staff, (31) 3289-8900. Tuesday to Friday from 10am to 21h; Saturdays, Sundays and holidays from 10am to 18pm. Free admission.