Índia não teme mudar
Rubens Barbosa
Nova classe média e jovens pesaram na eleição
A maior democracia do mundo, com quase 800 milhões de eleitores, acaba de viver uma eleição histórica. Narendra Modi, candidato do Partido do Povo Indiano, na oposição desde 2004, obteve a maioria absoluta no Parlamento e vai ocupar o cargo de primeiro-ministro da Índia.
Modi, de uma “casta deixada para trás”, self made man, foi um bem-sucedido governador de Gujarat, estado importante, onde deixou sua marca com uma administração eficiente, baseada na meritocracia, atraindo investimentos, criando empregos, melhorando estradas e a infraestrutura em geral. Modi foi financiado por interesses privados cansados da ineficiência e das políticas econômicas equivocadas do governo.
O Partido do Congresso, que governou a Índia até agora, baseou sua campanha de reeleição nos programas sociais que criou e na ameaça de retrocesso ao explorar o medo de que as políticas a favor dos mais pobres, que vinha praticando nos últimos anos, fossem suspensas pelo candidato da oposição. Apesar disso, perdeu parte dos eleitores que mais se beneficiaram durante sua década no poder.
Muitos analistas consideram que o resultado da eleição foi determinado pela conjunção de duas grandes mudanças que ocorreram na sociedade indiana: a emergência de uma nova classe média, que saiu do campo para as cidades, e os primeiros impactos do crescimento da participação dos jovens na política. Esses fatores estão transformando a Índia, trazendo novos valores, comportamentos e conflitos e estão criando e aumentando as expectativas de maior eficiência de gestão e melhor qualidade de vida que o governo não foi capaz de atender. A politica econômica atual acarretou a perda do dinamismo da economia, com significativa redução do crescimento, e a execução dos programas sociais não foi suficiente para trazer mais escolas, hospitais e transporte para os segmentos das classes C e D. A corrupção prejudicou a execução de programas sociais e de infraestrutura, fazendo com que seus benefícios não fossem claramente identificados em muitas regiões do pais.
A campanha eleitoral de Modi baseou-se em mensagens claras e diretas: volta ao crescimento, baixa inflação e luta contra a ineficiência e a corrupção. “Menos governo e mais governança” foi seu lema.
Fator importante na vitória foi também a insistência em dar à Índia uma visão de futuro e restaurar sua projeção e influência externa, perdidas pelo projeto de poder do Partido do Congresso. Não parece que as relações com o Brasil e com o Brics sofram qualquer retrocesso, ao contrário.
Em seu primeiro discurso depois de conhecer a extensão de sua vitória, Modi declarou “ser sua responsabilidade trazer todos vocês comigo para governar esse pais”, evitando a divisão do “nós”e “eles”. Confiante, prometeu tornar o século XXI o século da Índia.
Ontem, Modi tomou posse. Em julho, o primeiro-ministro deverá vir ao Brasil para a reunião do Brics em Fortaleza.
Na Índia, o jogo mudou.
Rubens Barbosa é presidente do Conselho de Comércio Exterior da Fiesp
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