Um novo caminho da Índia
Acredita-se que o novo premier Narendra Modi, que governou 13 anos o estado de Gujarat, adote uma política neoliberal baseada em dura desregulamentação
Habituada a taxas de crescimento do PIB entre 8% e quase 10 % nos anos 90, a Índia viu seu crescimento cair para 6,2% em 2011-2012 e 5% em 2012-2013, e a inflação alcançar de 9% a 11%. Agora, encerrando um decênio de estagnação industrial, projetos incompletos, máquina estatal cada vez mais corrupta e uma política tributária do Partido do Congresso que penalizava a livre iniciativa, os eleitores votaram contra a opção pelo assistencialismo, que gastava milhões em duvidosos programas de emprego rural e subsídios para alimentação, adiando mais de US$ 100 bilhões em projetos de infraestrutura, graças à burocracia e ao lento crescimento.
Neste último ano, a produção industrial caiu pela primeira vez em 30 anos. O Centro para o Monitoramento da Economia da Índia, citado pelo “Wall Street Journal”, estima que projetos industriais no valor de US$ 54 bilhões foram engavetados: empresários preferiram cortar custos, reduzir preços e acumular caixa para sobreviver.
Os 814 milhões de eleitores da maior democracia do mundo, mas também uma das economias mais estatizadas e burocráticas, preferiram um massacrante retorno ao partido nacionalista hindu Janata, cuja coalizão faturou 336 dos 543 lugares da Câmara. Acredita-se que o novo premier Narendra Modi, que governou 13 anos o estado de Gujarat, implemente uma política neoliberal baseada em dura desregulamentação, privatizações, investimentos em infraestrutura necessários para revigorar a terceira maior economia da Ásia e, é claro, mais aperto sobre os salários. Tal como o Brasil — com o qual compõe o chamado Brics (bloco dos grandes países emergentes), ao lado de Rússia, China e Africa do Sul —, a Índia tem atualmente uma enormidade de ministérios. Mas, ao contrário do nosso país, Modi, segundo a Reuters, enxugará o número de ministérios. Por exemplo, deve fundir pastas, pois as há separadas para petróleo, carvão, energia e energia renovável.
Um dos criadores da organização de extrema-direita Rashtriya Swayamsevak Sangh, Modi foi acusado em 2002 de não ter impedido ou até mesmo ter instigado confrontos que levaram à morte de mil pessoas, na maioria muçulmanos. Sua responsabilidade nunca ficou provada. Segundo a Associação pelas Reformas Democráticas, 34% dos candidatos eleitos respondem a processos criminais tipo assassinato, sequestro ou violação. Agora, Modi venceu mais uma geração da família Nehru: Sonia Gandhi, viúva italiana de Rajiv, que preside o Partido do Congresso, e o bisneto Rahul Gandhi. Criador da India moderna, o socialista fabiano Nehru (1948-1964) admirava os planos quinquenais soviéticos e tentou unir “o melhor do capitalismo ao melhor do socialismo”.
Este “socialismo democrático” se revelaria, porém, incapaz de tirar o país das últimas posições entre os emergentes. Após os assassinatos de Indira (1984) e de Rajiv Gandhi (1991), filha e neto e sucessores de Nehru, foi, porém, o próprio Congresso que iniciou reformas econômicas, liberalizando e abrindo um pouco a economia ao comércio e investimentos internacionais. No governo seguinte, do Janata, a taxa de crescimento disparou para 7,5%, a mais rápida em qualquer década.
O país incorpora 20 milhões de pessoas à sua força de trabalho anualmente, mas, como o PIB cresceu à taxa anualizada de 5% nos últimos trimestres, novos empregos estão sendo criados apenas para a metade delas. Fabricantes, principalmente montadoras, querem redução de impostos: os dos carros, cujas vendas caíram pelo segundo ano consecutivo, estão entre os mais elevados do mundo. Outra necessidade seria a simplificação do complexo regime fiscal. Acredita-se que uma reforma fiscal possa aumentar até dois pontos percentuais a taxa de crescimento do país.
Celso Barata é jornalista
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